quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O "Carrossel Azul" de Cuca

A estreia do Cruzeiro, ontem, na Libertadores 2011 chamou a atenção não só pela goleada de 5 a 0 sobre o campeão argentino Estudiantes, mas também pela nova formação tática do time, que lembrou o Botafogo – que chegou a liderar o Brasileirão de 2007 –, também treinado por Cuca.

Na teoria, a Raposa parecia ir a campo sem surpresas no seu esquema, mas com muitas novidades em relação ao time que vinha jogando até então. O zagueiro uruguaio Mauricio Victorino, principal contratação do clube nesta temporada, fazia sua estreia na vaga de Leo; Gilberto foi deslocado para a lateral esquerda substituindo Diego Renan, para dar lugar a Roger no meio-de-campo; Marquinhos Paraná, recuperado de uma torção no tornozelo esquerdo, recuperou o posto que foi de Leandro Guerreiro nos dois últimos jogos; e Wallyson jogou pela primeira vez como titular, deixando Thiago Ribeiro no banco.

Mas na prática, o Cruzeiro atuava em uma nova formação: 3-4-2-1. Pablo, Victorino e Gil eram os zagueiros, com o uruguaio centralizado. Henrique e Marquinhos Paraná eram os volantes, que desconstruíam as tentativas de armação do Estudiantes e iniciavam com velocidade, principalmente com o camisa 8, os ataques celestes. Gilberto era o ala pela esquerda, e Wallyson, pela direita, fazia o que em Portugal se chama “médio-ala”, e pode ser explicado por ter uma função um pouco mais ainda ofensiva do que o típico ala conhecido no Brasil. Isolado na frente estava Wellington Paulista, que mesmo tendo finalizado pouco, foi bem taticamente, ao abrir espaço para as chegadas de Roger, Montillo e o próprio Wallyson – como no primeiro gol do argentino, quando o time celeste apareceu na área adversária com três atacantes e apenas um defensor para marcá-los.

Esse esquema é bem parecido com aquele que o próprio Cuca adotou, quando treinava o Botafogo em 2007 e ficou conhecido como “Carrossel Alvinegro”, em alusão ao grande time holandês, liderado por Cruijff, finalista da Copa do Mundo de 1974.

A diferença do time carioca daquele ano para o Cruzeiro de ontem era que o falso lateral, Luciano Almeida, que ajudava a compor o trio de zagueiros e o atacante, Jorge Henrique, que atuava como o “médio-ala”, da equipe alvinegra, jogavam pelo lado esquerdo do campo. Pablo e Wallyson apareceram pela direita, no novo (velho) “Carrossel Azul” de Cuca, como pode ser visto na ilustração abaixo:


Ao contrário do Cruzeiro na partida contra o Estudiantes, o falso lateral e o "médio-ala" do Botafogo de 2007 estavam do lado esquerdo.

Confira mais sobre os “carrosséis” de Cuca, na reportagem de Thiago de Castro e Daniel Hott, com comentários de Mauro Beting, no jornal esportivo Lance!, desta sexta-feira.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

ADEUS AO FENÔMENO


Chega ao fim a carreira de um dos maiores jogadores de todos os tempos, dono de um carisma espetacular, de personalidade forte e oportunismo de gênio, comparado somente a Gerd Müller, Just Fontaine e Rummenigge. Aos 34 anos, Ronaldo certamente deixará saudades aos fãs do futebol, aos ídolos da música e da poesia e aos críticos do esporte. Afinal, poucos atletas renderam tantas discussões (positivas ou negativas) sobre a arte de jogar e conduzir a bola com os pés ou com a cabeça.

Muitas gerações de garotos compreenderam a arte do futebol ao ver Ronaldo brilhar nos campos do Brasil, da Espanha, da Holanda e da Itália. O Fenômeno não se tornou apenas um ídolo futebolístico, mas uma personalidade, cujos costumes, dicas e ações deveriam ser seguidos à risca. Seus 15 gols em Copas do Mundo não foram apenas um recorde, mas um marca que certamente será batida apenas por outro ídolo da modernidade.

O jogador tem no currículo várias conquistas importantes no país: duas Copas do Mundo, duas Copas América, dois campeonatos espanhóis, um Mundial Interclubes... Ronaldo sempre soube responder as críticas à altura. Quando o problema no joelho direito quase o fez parar de jogar em 2000 durante um partida entre Lázio e Internazionale, pela Copa da Itália, ninguém apostaria que pouco tempo depois ele estaria no Japão erguendo mais um título mundial pela Seleção Brasileira. O dia 30 de julho de 2002 consagrou o brilhante goleador como um dos maiores jogadores tupiniquins da história, comparado somente a gênios como Pelé, Romário, Zico, Roberto Dinamite, Zizinho, Vavá e Rivaldo.

O atacante sempre teve problemas com a balança. Seu peso já provocou polêmica com o então presidente Lula durante a Copa de 2006. Aliás, esse mundial é para ser esquecido, pois foi o único que o fiasco falou mais alto na bela carreira do Fenômeno.

Problemas físicos não são novidade na carreira de belos jogadores. O maior nome da história da Holanda, Marco Van Basten, se aposentou precocemente aos 30 anos, em 1995, depois que teve complicações no tornozelo direito. Quem não se lembra de Roberto Baggio, que perdeu o pênalti na decisão na Copa de 1994? Ficou muito parado devido ao rompimento dos ligamentos do joelho direito. E sem contar o polivalente Tostão, que deixou os gramados aos 26 anos, depois que uma bola chutada por um zagueiro corintiano foi desviada em seu olho.

O hipotireoidismo é a baixa produção de hormônios pela tireoide. Os principais sintomas são cansaço, depressão e ganho de peso. "Há quatro anos fiz um exame no Milan que constatou que essa lesão. Eu precisava tomar hormônios, mas não podia porque seria pego no doping. Alguns de vocês agora devem estar arrependidos de fazer tanta chacota com meu peso, mas não guardo mágoa. Só queria explicar isso no ultimo dia da minha carreira", disse o camisa 9, quando foi às lágrimas.

Quarto maior artilheiro com a camisa verde-amarela, o Fenômeno certamente terá um jogo de despedida à altura de seus gols e dribles. Mas as imagens deixadas ao longo da sua carreira, nas Copas que disputou e nos gramados que esteve, sempre ficarão guardadas na memória dos torcedores que admiravam sua carreira!