quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Pep Guardiola: um “covarde” no comando do melhor time do mundo

Mesmo levantando 12 troféus em três anos, Guardiola seria um treinador “covarde”,
segundo o idealismo popular – Foto: David Ramos/Getty Images


“Esse técnico está louco, escalar um time com seis volantes?!”. “Retranqueiro!”. “Covarde!”. “Está com medo de perder? Vai embora logo!”. Se você nunca se exaltou, seja no estádio, no bar, ou mesmo no conforto de casa, proferindo uma frase dessas, com certeza já cansou de escutá-las da boca de algum torcedor. Com exceção dos fãs do Barcelona.

Na última segunda-feira (29), o time catalão enfrentou o Villarreal – um dos melhores clubes entre os 18 coadjuvantes do Campeonato Espanhol, ofuscados pelo poderio técnico dos gigantes Real Madrid e o próprio Barça –, no Camp Nou, com seis volantes na escalação inicial. Uma afronta a qualquer estilo de jogo bonito, a qualquer equipe ambicionada pela vitória. O estopim para a taquicardia de qualquer torcedor mais inflamado. Não para o time comandado por Pep Guardiola. Menos para os entusiastas do clube azul grená, que viram seu time golear o adversário por 5 a 0.

Com a suspensão de Daniel Alves e as lesões de Puyol e Piqué, além da de Adriano, o estrategista ainda poupou Xavi e Villa e optou por um esquema novo. Habituado ao estilo 4-3-3, o time atuou em um 3-4-3 recheado de volantes: Valdés; Mascherano, Busquets e Abidal; Keita, Fábregas, T. Alcântara e Iniesta; A. Sánchez, Messi e Pedro.

Para o ex-jogador e atual comentarista de futebol, Tostão, existe uma demasiada confusão em relação ao posicionamento dos jogadores em campo, tanto por parte da imprensa quanto da torcida.

“Há um descaso de parte da mídia com os detalhes táticos. Isso começa antes das partidas, quando a televisão mostra a posição dos jogadores. Raramente é a correta. Muitos torcedores querem entender, e não apenas torcer”, escreveu o campeão mundial, em sua coluna no jornal Folha de São Paulo, do último dia 21.

Para o técnico do clube catalão “o trabalho do treinador é conhecer seus jogadores e suas qualidades”. Não importa a posição de cada atleta, o que interessa é qual a função tática ele desempenha dentro de campo. Apesar de volantes, os meias do Barça não se satisfazem apenas em marcar e destruir ataques, eles também sabem jogar um futebol ofensivo e desempenham essa função com maestria.

“Neste clube sempre se pensou que o bom futebol se faz com os meio-campistas, e temos a sorte de contar com muitos e muito-bons”, revelou Guardiola, durante a coletiva de imprensa após a partida.

Mesmo com a opção de poder escalar um zagueiro de ofício, o jovem Fontás – que, por curiosidade, quando se ingressou nas categorias de base do Barcelona era jogador de meio-campo –, Guardiola decidiu por improvisar, mais uma vez, os volantes Mascherano e Busquets na zaga, ao lado do defensor Abidal, apesar de reconhecer que “era um risco jogar assim, porque não tivemos tempo suficiente para nos preparar. Tivemos apenas três ou quatro conceitos explicados, e mais uma vez eles demonstraram ser jogadores muito bons e inteligentes. Deveríamos ter calma atrás e Mascherano e Sergio Busquets nos deram”, justificou o comandante, que na sexta-feira havia conquistado a Supertaça da Uefa, ao vencer o Porto por 2 a 0, em Mônaco.

Esse foi o segundo título do Barcelona na temporada 2011-2012, iniciada ainda neste mês de agosto, e até o final, em maio do ano que vem, o clube espanhol fará inúmeras partidas com volantes de sobra. Mas nem por isso deixará de ser o grande favorito de todos os campeonatos que disputar. E o melhor, sem deixar de contribuir com a beleza do futebol. Você duvida?