domingo, 26 de dezembro de 2010

O fantástico Liverpool, Kenny Dalglish e histórias não contadas no Brasil

Antes do boom midiático da década de 90, feitos importantes de grandes jogadores não ganharam o destaque merecido. Com isso as histórias de muitos deles seguem afastadas de quem gosta de futebol no Brasil, principalmente aquelas relacionadas à Inglaterra. Os acontecimentos do esporte inglês ainda são incógnitas, já que as contratações e a cultura por lá demoraram a criar uma relação mais próxima com nosso país. Nessa linha, o tetra da Liga dos Campeões (77,78,81 e 84) do brilhante Liverpool, três deles comandados pelo craque Kenny Dalglish, passa longe de ser uma narrativa de sucesso por aqui.

Apesar de ter sido um time distante dos holofotes brasileiros, os Reds marcaram história na Europa e Dalglish é praticamente um mito no clube. O ex-atacante foi um fora de série em todos os sentidos e até hoje é referência para os garotos formados nas divisões de base do Liverpool. O escocês começou a carreira no Celtic e brilhou na equipe da sua cidade natal por oito temporadas. Após um sucesso estrondoso em Glasgow, Dalglish foi para a Inglaterra mudar a história dos Reds. Conseguiu seis Campeonatos Ingleses, uma FA Cup, cinco Charity Shield, três Copas dos Campeões da Europa e quatro Copas da Liga, além de finais de Mundial, vices da Liga local e brilhantes temporadas nas competições continentais.

Apresentou aos europeus um futebol vistoso, elegante, de grande objetividade e com troféus que fazem inveja a muitos ‘ídolos’ por aí. Dalglish carrega ainda uma situação interessante de ter sido jogador/treinador durante algumas temporadas, levando o time, dentro e fora de campo, a conquistas importantes. Na inusitada função, conseguiu sete títulos com o Liverpool, sendo três títulos da Liga, aumentando ainda mais sua notoriedade.

A brilhante campanha como profissional do esporte fez dele integrante do Fifa 100 (125 melhores jogadores do século XX), membro da Ordem do Império Britânico, homenageado no Hall da Fama do futebol inglês e primeiro a ganhar o prêmio de personagens importantes na história do Liverpool. Apesar disso, Dalglish segue praticamente um desconhecido no Brasil.

Após fazer bons trabalhos no comando de Blackburn Rovers e Newcastle United, e uma tentativa frustrada no Celtic, o escocês recebeu a maior homenagem da carreira ao ser chamado de volta ao Liverpool para coordenar as divisões de base e ser embaixador do clube. No programa ’50 maiores jogadores de todos os tempos’, exibido no Brasil pela ESPN em 2009, Dalglish é retratado como lenda e referência absoluta para jogadores, dirigentes e torcedores dos Reds. O craque também brilhou ao criar ao lado de sua esposa o Marina Dalglish Appeal, instituição que promove campanhas arrecadando recursos para o combate ao câncer de mama, mostrando mais uma vez a origem de tanto prestígio na Inglaterra.

Por diversos fatores, craques das décadas de 60, 70 e 80, que tinham capacidade técnica incrível e conquistaram títulos muito importantes, são praticamente desconhecidos, mesmo daqueles que são apaixonados por futebol. O mercado atual do futebol e a exposição dos jogadores fazem naturalmente com que profissionais medianos virem celebridades em outros países. É comum ver garotos sul-americanos, africanos ou asiáticos que sabem a escalação completa de Real Madrid, Barcelona, Milan e Manchester, por exemplo.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Mudança nos números

A decisão da CBF de unificar os títulos da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa aos do Brasileiro causará mudanças profundas nas estatísticas do futebol nacional. Feitos conquistados há décadas agora não existem mais e novos recordes farão parte dos números. Por exemplo: Cruzeiro, Flamengo e Internacional não são mais as únicas equipes que participaram de todas as edições do Brasileiro, considerando que o trio ficou fora de várias competições nacionais antes da década de 1970.
Pelé desbanca Andrade e Zinho e é o maior campeão brasileiro, com seis títulos. É um reconhecimento ao talento do melhor jogador de todos os tempos e maior atleta do século passado. O ex-jogador tricordiano fez 34 gols em Brasileiros (em 1971, 1792, 1973 e 1974) e não havia ganho nenhum título até se transferir para o Cosmos.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Nigel, o filho do mito, tenta caminhar com as próprias pernas

No filme ‘Damned United’ (2009), Nigel Clough aparece apenas como um garotinho que segue o pai pelos trabalhos mais duros nos clubes ingleses. E pouca importância se dá ao menino, filho do lendário Brian Clough, considerado por muitos o maior treinador inglês de todos os tempos. A despeito da pouca visibilidade na narrativa, Nigel ganhou certo destaque no futebol da Inglaterra e é um personagem interessante.

É óbvio que ele não tem o apelo midiático do pai, mas apresentou seu próprio caminho com algum sucesso e histórias interessantes. Jogou em clubes como Manchester City e Liverpool e chegou a defender a seleção inglesa em 14 oportunidades. Porém, é como treinador que a história de pai e filho ganha um papel mais interessante. Nigel começou a carreira como técnico no Burton Albion, clube no qual que seu ídolo esteve durante apenas uma temporada. Na sequência, seguiu para o Derby County, que teve uma posição de grande notoriedade na carreira do mitíco Brian Clough. Foi lá que o polêmico ‘manager’, falecido em 2004, conseguiu aparecer para o cenário nacional, conquistando a Segunda e a Primeira Divisão, sendo contratado na sequência pelo então poderoso Leeds.

Sem tanto alarde, Nigel trabalha na equipe do leste inglês desde 2009 e vem conseguindo resultados modestos. Seu temperamento apresenta algo de controverso, como o Clough mais famoso se caracterizou durantes as décadas de 70 e 80. O treinador Billy Davies, do rival Nottingham Forest, acusou de ter sido agredido com um chute no joelho durante uma partida. Nigel ainda causou certo alarde quando se deu uma chance como jogador, entrando nos minutos finais da partida diante do West Bromwich Albion, na Liga de reservas.

Atualmente, o Derby County é o nono na tabela de classificação Segunda Divisão Inglesa e sonha em voltar aos dias de glória dos tempos de Brian Clough.

Para quem quiser saber mais sobre Brian e Nigel Clough, vale a pena conferir um pouco dos detalhes nos links abaixo. Outra excelente pedida para aprofundar na história é assistir o filme ‘Damned United’ (Maldito Futebol Clube, no título do filme português), disponível em muitas locadoras no Brasil. Uma pena a obra não ter sido lançada no cinema, indo diretamente para o DVD.

Na foto acima, Brian e Nigel, na década de 90.

Nigel Clough - http://en.wikipedia.org/wiki/Nigel_Clough

Brian Clough - http://en.wikipedia.org/wiki/Brian_Clough

Damned United - http://vcviu.com.br/filmes/cinema-europeu/maldito-futebol-clube/

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Um clássico para se pensar além do jogo

O Cruzeiro venceu o Atlético por 3 a 0 na noite de quinta-feira e avançou à semifinal do Campeonato Brasileiro Panasonic Sub-20. Élber, Sebá e Thiaguinho marcaram para a Raposa. O adversário da próxima fase será o Palmeiras, que bateu o Ceará por 2 a 1.

O clássico tinha tudo para ser muito interessante, já que os dois times têm características completamente diferentes. A meninada da Cidade do Galo é mais habilidosa e com mais toques de classe, porém, ainda não entendeu o valor do trabalho em equipe e a vontade necessária que o futebol profissional exige (eles estão à porta do time principal, por isso a palavra ‘profissional´). Os atleticanos têm muito talento, mas pecam pela falta do algo a mais, com incisão e verticalidade para usar a técnica em prol do time. A turma da Toca da Raposa é um pouco inferior tecnicamente em relação ao rival, mas se encontrou como time de forma mais rápida, mesmo sendo formado por jogadores jovens (muitos são da categoria 93/94 e ainda não completaram 18 anos). O grupo se doa mais e joga com força para cima do adversário.

Ainda dá tempo de tudo isso mudar, já que são garotos e estão em processo de aprendizagem, mas essa é a visão que podemos ter dos últimos dois anos das duas equipes.

O Cruzeiro tomou conta das ações no início, porém desperdiçava algumas chances de abrir o marcador. O Galo conseguiu incomodar de verdade apenas uma vez, já no fim da primeira etapa. Nos 45 minutos finais, a vontade cruzeirense prevaleceu e o time fez um 3 a 0 bem confortável, com propriedade.

O Alvinegro contou com seis titulares que já tiveram chances no time profissional e apresenta um grupo muito experiente. Porém, muitos jogadores terão dificuldade de ganhar novas chances na equipe principal devido ao plantel que vem sendo formado pelo técnico Dorival Júnior, que contará com a base de 2010.

A equipe celeste tem boas chances de ficar com o título da competição e revelar bons talentos. Resta saber como será feita a integração entre base a profissional na Raposa. Recentemente, muitos garotos se destacaram nas conquistas do BR Sub-20 e da Copa SP, mas poucos foram utilizados nos profissionais. A Era Adilson lançou poucos talentos da casa e resta saber qual será a postura de Cuca em relação a isso.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Boa gestão e responsabilidade têm espaço em qualquer área

O livro ‘A bola não entra por acaso’, de Ferran Soriano, é um trabalho bem organizado e muito claro sobre gestão. Por mais que o assunto predominantemente abordado seja o futebol, o autor deixa a base nítida de que uma administração exitosa não tem campo restrito e pode ser abrangida para diferentes áreas da nossa sociedade. Infelizmente, muitos dirigentes do futebol brasileiro ainda se baseiam em outras premissas, deixando o esporte arcaico, pouco profissional e muitas vezes na lama por situações embaraçosas. Não se sabe ao certo qual o principal fator disso, mas o retrocesso de muitos envolvidos é visível.

Por meio de sua experiência em empresas de grande porte na Espanha e pela gestão vencedora do Barcelona (dentro e fora de campo), Ferran traz detalhes sobre modelos econômicos importantes, contratação de jogadores e estratégias em recursos humanos. O Barça deixou de acreditar que o futebol se resume às quatro linhas e aplicou um caminho administrativo completamente diferente. Ele explica a captação feita pelo clube para formar um grupo de gestores de primeira linha, que pudesse dar todo o respaldo ao gigante catalão também nos escritórios.

A ideia do Barça foi trazer os melhores gestores do país, em suas determinadas áreas, para conduzir o clube ao sucesso absoluto, com valores voltados para o caráter, orgulho catalão, missão barcelonista e muito trabalho duro. Ferran, Joan Laporta, Esteve Calzada, Josep Cubells e tantos outros que fizeram parte do processo eram os responsáveis por setores bem definidos, todos eles vindos de grandes trabalhos anteriores nas mais diferentes áreas do mercado espanhol. Quem é bom nos modelos de gestão, tem dignidade, amor ao trabalho e noção do espírito barcelonista poderia se dar bem no comando do clube. Essa era a principal noção na escolha dos melhores para conduzir o Barça. E deu certo. O quadro de sócios foi recontado, o marketing cresceu, os homens do recursos humanos aplicaram contratos por produção e o ciclo foi se tornando virtuoso. Com isso, cada um cuidava da sua área e deixava o futebol, a parte técnica, somente para os responsáveis por esse setor, como o ex-jogador Txiki Begiristain. As contratações eram feitas com critério, os acordos tinham como base a produtividade e os técnicos eram escolhidos pela capacidade de manter o padrão e a cultura de jogo do Barça. Os dois títulos da Liga dos Campeões, os Campeonatos Espanhois, as Supercopas, a campanha com a Unicef, os jogadores referências em educação e cordialidade e o estilo ‘futbol art’ evitam maiores explicações sobre o sucesso da jornada.

Alguém pode falar que isso é uma realidade distante, que no Brasil nunca vai pegar e outros argumentos sem fundamento algum, que aparecem simplesmente pelo comodismo de alguns. Muitos dos nossos pesquisadores são desejados por universidades tradicionais de países de primeiro mundo, nossos médicos são referências e nossos gestores conseguem até comprar o Burguer King. Então não apareçam com o argumento de que nossa economia é diferente, que no Brasil não dá. Isso não vale. O que acontece é que o futebol, principalmente no âmbito dos clubes, se vê cercado por pessoas ainda sem capacidade intelectual e cultural para gerir nada. São ‘cartolas’ que acreditam em sorte, azar, malas brancas e pretas, em valores da década de 70 e que se baseiam na máxima de que ‘o futebol é diferente do restante’.

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Dados sobre o livro:

Editora: Larousse

Autor: FERRAN SORIANO

Ano: 2010

Edição: 1

Número de páginas: 208

Acabamento: Brochura

Formato: Médio

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Future Champions chega às semifinais









O Future-Champions é uma iniciativa muito interessante para fortalecer Belo Horizonte como uma das sedes da Copa do Mundo de 2014, e para dar a aqueles que gostam de futebol uma oportunidade de ver a garotada mais de perto. Com as duas semifinais já definidas, fica a situação interessante de termos três clubes brasileiros entre os quatro melhores.

Sem dúvida, o jogador destaque da competição é o atacante Léo, do Cruzeiro, um camisa 9 de grande potencial técnico, tático e físico. E que sem dúvida vai se tornar um jogador de primeira linha. Após brilhar no Campeonato Mineiro, o atacante, de 16 anos, mostra mais uma vez que tem atributos de um grande profissional, na melhor acepção da palavra. Léo tem tranquilidade para finalizar, força para brigar no jogo aéreo, disposição tática para marcar a primeira linha de ação do adversário e técnica para fazer criar lances de ataque para a Raposa. Além disso, não mudou o humor por conta de uma tentativa de criar confusão vinda de um garoto do Peñarol. Não é um craque, daqueles que enchem os olhos das pessoas nas arquibancadas, mas está muito à frente de garotos da sua idade, que só pensam em driblar 5, 6 jogadores em lances que não resultam em nada concreto para a equipe.

Vasco e Atlético também chamaram a atenção, e por características bem diferentes. O Alvinegro Mineiro é um time leve, de bom potencial técnico, mas que ainda precisa se envolver mais com o jogo, aprendendo a marcar gols nos momentos mais importantes. Já o Clube da Colina tem uma equipe de muita força física, que pressiona o adversário o tempo inteiro e que pode dominar a partida com tranquilidade.

O quarto semifinalista é o Everton, da Inglaterra, que chamou a atenção pelo padrão de jogo típico do Reino Unido. O 4-4-2 tradicional é visto claramente na equipe inglesa, que não tem nenhum craque no grupo, mas mostra que sabe como criar jogadores disciplinados e de bom potencial para execução dos fundamentos. Todos marcam, passam e finalizam com destreza, demonstrando que a base tem sido bem trabalhada. As duas linhas de quatro (como quase nunca se vê no Brasil) é o pilar da marcação, deixando os dois homens de frente esperando o melhor momento para sair no contra-ataque.

Merecem também o comentário os sul-africanos do Mamelodi Sundowns. Apesar da eliminação na primeira fase, trouxeram ao Brasil um futebol interessante, de muita velocidade e técnica no meio-de-campo. O Barça tentou apresentar um jogo vistoso, de toques curtos, mas teve dificuldade com a pressão dos outros times ainda nas primeiras linhas e sofreu para evitar o chutão. Os catalães também caíram na primeira fase.

O ponto negativo fica para a falta do regulamento no site oficial da competição e de mais detalhes das partidas, como ficha técnica, por exemplo.

Confira mais detalhes do Future Champions:

http://www.future-champions.net

http://futurechampionsunibh.webnode.com.br/

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

(Mais) um título com as iniciais MR


Foto: Fernando Soutello/Agif/AE

A conquista do Brasil em 2010 começou em julho, quando Muricy Ramalho se abdicou de um sonho para fazer valer o que ele tinha assinado em papel.

Já o Corinthians, líder da competição na época, preferiu “trocar” o título pela proximidade à CBF, que pode lhe render a abertura da Copa do Mundo de 2014 no seu estádio, que ainda nem existe.

Ao liberar seu treinador, o clube do Parque São Jorge também ofuscou o brilho de seu principal destaque em campo. Sob novo comando e tendo que exercer outra função, Bruno César, que chegou a liderar a artilharia do campeonato, parou de fazer gol e o time atingiu a incrível marca de sete partidas sem vencer – o que não condiz com o objetivo de um clube que buscava um título para coroar seu centenário.

O Fluminense votou contra a entidade máxima do futebol brasileiro na eleição do Clube dos 13 e não aceitou liberar o técnico para a mesma. Caso aceitasse, quem poderia garantir que Conca, único jogador de linha a atuar nas 38 partidas, seria o líder de assistências do BR10 e o principal candidato ao prêmio de craque do campeonato?

Assim, o Flu entra para a história do Brasileirão com o seu bicampeonato e Muricy Ramalho, o rei dos pontos corridos, com quatro conquistas nas últimas cinco edições, vai a busca do tri, com outro tricolor.

Segundo colocado

Os cruzeirenses, premiados com a prata, preferem lamentar as possíveis entregas de jogos nas últimas rodadas e culpar a arbitragem, para justificar um sucesso que poderia ter sido maior. Mas se esquecem que deixaram de somar três pontos em partidas contra Vitória e Grêmio Prudente, quando tinham o mando de campo. Só para lembrar dos times que foram rebaixados.